Encostados à parede, já estrebucham!

Um tal Luís Alcácer escreve aqui um relambório imenso para dizer que o princípio de complementaridade, de Niels Bohr, é falso. Diz ele, resumindo, que “os fotões são sempre partículas” – como se fotões fossem sempre corpúsculos, como se “onda” fosse a mesma coisa que “corpúsculo”, e como se “partículas elementares” fossem “coisas”…!

Uma “partícula” (partícula elementar) não é uma “coisa” (já lá iremos). Antes de mais, vou ter que recorrer a uma autoridade de direito e citar o físico Roland Omnès que, presumo, não seja mais burro do que um “cientista” coimbrinha:

«We cannot describe light as being at the same time both as electromagnetic wave and composed of photons». – “Quantum Philosophy”, page 152, Princeton University, 1999

Traduzo: “não podemos descrever a luz como sendo simultaneamente onda electromagnética e como composta de fotões”. Ora, os fotões são “partículas” no sentido de “corpúsculos”, por assim dizer (e neste sentido e não no sentido de “partícula elementar”, como veremos adiante); e as ondas electromagnéticas não são “ondas puras” (mas teoreticamente podem ser: quando uma coisa não se encontra no seu estado puro, está implícito que o estado puro dessa coisa não só é possível como é provável).

As ondas não estão rigorosamente localizadas no espaço: elas ocupam potencialmente senão o espaço todo, pelo menos uma certa extensão espacial. Portanto, dizer que “uma onda é sempre uma partícula” só poderia vir de um cientista coimbrinha – porque a partícula está localizada numa região muito restrita do espaço, descreve trajectórias claras ao longo das quais, em qualquer instante, a sua posição e a sua velocidade são bem determinadas.

Por outro lado, as ondas não transportam nada: nada mais fazem do que transportar energia – por exemplo, a energia pode ser radiação fraca – e em muitos casos não transportam mais nada senão informação. Uma onda não tem massa, ou, se tiver, a sua massa é tão pequena que é quase nula. Por isso, uma onda não pode ser um “corpúsculo” ou, neste sentido, uma “partícula de matéria”.

Agora vejam este vídeo:

Os electrões não são pura e simplesmente “corpúsculos” porque criam interferências quando chegam em número elevado; mas também não são “ondas puras” (embora existam, potencialmente, “ondas puras”, assim como existem “corpúsculos”), porque são individualmente detectados como pequenas manchas (que acabam por desenhar, ao acumular-se, uma figura de interferência).

Mas, o que não é legítimo é que se diga que pelo facto de não serem “ondas puras”, então “os electrões são sempre partículas” no sentido de “corpúsculo” e, por isso, são sempre matéria porque têm massa – que é o que o cientista coimbrinha afirmou.

Voltemos ao vídeo. Na experimentação das duas fendas, se não medirmos por que fenda passa cada electrão, então o conceito de “onda” é bem definido, e a figura de interferência aparece. Se acrescentarmos o dispositivo que permite saber por qual fenda passam os electrões (a medição), o conceito de trajectória fica bem definido, mas as bandas de interferência toldam-se até desaparecerem. Neste último caso já não podemos empregar o conceito de “onda”, porque o seu sentido e a sua utilização já não são definidos por esta experiência.

Ou seja, e resumindo e concluindo – segundo Niels Bohr -, não somos livres de utilizar, sem restrições, um conceito definido por uma experiência concreta para descrever qualquer outra experiência – que foi exactamente o que o cientista coimbrinha (erradamente) fez!


Os componentes minúsculos do átomo podem ser decompostos em componentes ainda mais pequenos, a que chamamos de “partículas elementares”. Muitas destas partículas elementares existem no universo apenas durante 10^-23 segundos – ou seja, existem no universo apenas durante um milésimo da bilionésima parte do centésimo da bilionésima parte de um segundo; e depois desaparecem! Os cientistas coimbrinhas não sabem por que desaparecem, nem sabem de onde vieram e para onde vão…!

As partículas elementares subatómicas não são “coisas”, corpúsculos ou objectos: as partículas elementares comportam-se como se um copo de vidro caísse no chão e os respectivos cacos fossem constituídos também por copos de vidro. Neste sentido, não podemos dizer que as partículas elementares sejam matéria – excepto se for o caso da opinião do cientista coimbrinha.

Se se quiser dividir uma partícula elementar “bombardeando-a” com outra partícula elementar, entre as partículas elementares surgidas depois do “bombardeamento” podem estar várias partículas novas do mesmo tipo da partícula destruída. Isto leva à conclusão – aparentemente absurda – de que as partículas elementares são compostas “por elas mesmas”. E a totalidade da massa das partículas elementares existentes (a existir massa) depois do “bombardeamento” pode ser várias vezes superior à totalidade da massa inicial (existente antes do “bombardeamento”): ou seja, parece que a massa “aparece” não se sabe bem de onde. E os cientistas coimbrinhas também não sabem.

Fritjof Capra escreve o seguinte (“O Tao da Física”):

“As partículas subatómicas não são coisas, mas sim ligações entre coisas, e estas “coisas” são, por seu turno, ligações entre outras “coisas”, e assim por diante. Isto significa que não podemos decompor o mundo em unidades minúsculas, existentes independentemente umas das outras. Ao penetrar na matéria, não encontramos elementos básicos isolados, mas sim uma rede complexa de relações entre as várias partes de uma totalidade única”.

Antes de acreditarem nos coimbrinhas do Rerum Natura, comprem livros e leiam – mas nunca os livros recomendados por eles! Não se fiem naquela gente.

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