Fernando Pessoa já tinha a solução na década de 1920

 

«O nosso homem das classes médias — e as classes médias são o esteio de um país — é mal culto, ignorante, profissionalmente instintivo ou atado; a propaganda da nossa terra é descurada pelo Estado, absorvido por políticos, pelos indivíduos, desnacionalizados e inertes, para tudo quanto não seja os seus baixos interesses ou os interesses superiores da sua política inferior; e a invasão das ideias estrangeiras, pervertendo a própria substância do patriotismo que restava entre nós, privou-nos de podermos criar, não já um orgulho nacional, mas uma simples consciência superior da nossa nacionalidade.

(…) Fernando Pessoa

Em matéria cultural, o que se tem feito é quase nada. Quem há culto entre nós, a si próprio se cultiva, e as mais das vezes mal, quase sempre antinacionalmente. (…) E em matéria de consciência superior da nacionalidade, a maioria dos portugueses nem sequer sabe que isso existe.

É preciso criar um organismo cultural capaz de substituir o Estado nestas funções. Escusa de ter aspecto de potência adentro da Pátria; basta que tenha a precisa noção superior dos seus fins.

Deve essa organização visar três fins: a criação de uma atitude cultural nas classes médias, porque são elas as em que assenta a vida nacional, e entre os comerciantes sobretudo, porque, sobre serem eles a parte mais forte das classes médias, são a parte mais representativa delas, dado o carácter comercial da nossa época; a criação de uma propaganda ordenada e científica de Portugal no estrangeiro; a criação lenta e estudada de uma atitude donde derive uma noção de Portugal como pessoa espiritual

— Fernando Pessoa, Obras em Prosa, “Sobre Portugal” (“O Sentido de Portugal”)

Esta entrada foi publicada em Geral com as etiquetas , , , , , . ligação permanente.

Deixe uma resposta